CG comemora 159 anos de Emancipação Política, e historiador destaca bravura e perspicácia de povo campinense
“Eterno poema de amor à beleza”. A frase extraída do hino oficial de Campina Grande, uma composição do maestro Antônio Guimarães, e que ganhou melodia na canção do professor Fernando Silveira, retrata intrinsecamente elementos da Rainha da Borborema, que nesta quarta-feira, (11), está completando 159 anos de emancipação política.
Sagacidade, perspicácia e luta, são marcas indeléveis do povo da cidade que em 159 anos de existência, escreveu uma história marcada por grandes conquistas. E de feitos históricos. Nascida em berço de ouro branco e enquanto estratégico ponto comercial dos tropeiros, a antiga Vila Nova da Rainha, Campina não para se se reinventar, e atualmente envia talentos da tecnologia para outros países, respira cultura e se alimenta da própria memória.
“Oficina de ilustres varões”, “Canaã de leais forasteiros”, como diz o hino, Campina Grande se tornou referência econômica, cultural, histórica, tecnológica e educacional, sendo uma das mais importantes do Nordeste. Cidade de vanguarda, e de povo acolhedor e criativo, se tornou uma das melhores cidades para se viver e fazer carreira.
A cidade que fica localizada a 120 km de João Pessoa e possui mais de 400 mil habitantes, foi fundada em 1º de dezembro de 1697, tendo sido elevada à categoria de cidade em 11 de outubro de 1864, de acordo com a Lei Provincial de Nº 137.
Ao longo do tempo, Campina viveu pelo menos seis importantes fatos que foram decisivos para o seu crescimento, desde a chegada de Teodósio de Oliveira Ledo em 1697 e o consequente, aldeamento; a emancipação política em 1864; a saga dos Tropeiros; a conquista da luz elétrica que impulsionou o progresso; a chegada do trem em 2 de outubro de 1907, e o ciclo da cultura e do algodão.
No entanto, esses fatos históricos, embora de grande relevância, não teriam tornado Campina, uma cidade futurista, moderna com característica de metrópole, e um dos municípios que mais cresce no interior do Nordeste, se não fossem a luta e o espírito visionário do seu povo, conforme destacou em entrevista ao PB Agora, o historiador e presidente do Instituto Histórico de Campina Grande, (IHCG) Vanderley de Brito.
Terra de desbravadores, de visionários e povo aguerrido. O historiador destacou alguns dos aspectos que contribuíram para o crescimento vertiginoso da Rainha da Borborema. Autor do livro ‘Campina Grande de Aldeia a Metrópole’, Vanderley de Brito observou que a posição geográfica, e os diversos momentos históricos, foram importantes para Campina se tornar uma “metrópole”, mas o fator primordial para o crescimento da cidade, foi a luta de seu povo.
O professor e historiador enfatizou que para chegar à condição de uma grande cidade que domina a região da Borborema, Campina Grande, percorreu todo um trajeto. A chegada da linha férrea, o apogeu do algodão, e outros fatores, foram importantes para colocar a cidade nos trilhos do desenvolvimento e promover o progresso, mas a mola propulsora de tudo, conforme destacou Vanderley Brito, foi a sagacidade e luta do seu povo.
O historiador ressaltou que os fatos históricos foram apenas complemento. Campina segundo ele, cresceu por força e obstinação do seu próprio povo.
“Nossa cidade sempre teve cidadãos, ufanos, dotados de persistência teimosia, sobretudo no que se refere a trazer vantagens e benefícios comuns para o nosso povo. É uma questão até de personalidade campinense. O nosso povo tem um orgulho sem medida da cidade que vive” destacou o historiador.
Como historiador que se dedica à cultivar a memória de Campina, ele ressaltou que em 1790 quando foi elevado à categoria de Vila, a hoje Rainha da Borborema, ganhou essa honraria graças a luta de muitos homens “que moveram céus e terra” para convencer o ouvidor geral do Brasil, de que a localidade era propícia para se erguer uma vila.
Ele conta que na época, a povoação dos “Milagres” onde fica localizada a cidade de São João do Cariri, era o lugar mais apropriado para que a vila fosse erguida, o que não aconteceu devido a luta e os esforços de muitos campinenses que brigaram pela honraria.
“Como para erguer uma vila era preciso agregar terras ao patrimônio, esses mesmos homens doaram milhares de terras particulares para dar territorialidade a vila. Eles estavam dispostos a vencer qualquer restrição para a elevação de nossa povoação à categoria de vila” observou.
Ao longo dos 159 anos, muitos homens se destacaram no processo de crescimento de Campina Grande. No século XIX, conforme realçou o professor Vanderley de Brito, o então coronel Alexandrino Cavalcanti de Albuquerque Belo, resolveu construir um mercado e erguer edificações, criando uma vila inteira de comércio, nascendo assim, a rua Maciel Pinheiro, uma das principais e coração econômico da cidade.
A partir dessas construções, Campina passou a se consolidar como uma cidade mercantil, com comércio pujante que impulsionou o desenvolvimento da cidade.
Embora tenha sido fundamental para colocar Campina nos trilhos do progresso, a chegada do trem também foi fruto da luta de muitos visionários da época. O historiador conta que foi preciso muita luta e viagens ao Rio de Janeiro para sensibilizar e convencer o Presidente da República a estender a linha férrea de Itabaiana até Campina Grande.
Ele ressaltou que antes de chegar a Campina, o trem já tinha as suas estações em diversas outras localidades como Itabaiana e Alagoa Grande, que não souberam tirar proveito dessa “regalia”. Somente os homens de Campina tiveram a visão e a coragem para aproveitar a chegada da linha férrea.
Situação semelhante foi registrada no auge do algodão, quando Campina Grande se transformou na segunda maior exportadora de algodão do mundo, atrás somente de Liverpool, na Inglaterra.
Na época, a riqueza já passava por muitos municípios do Estado sendo transportada no lombo dos burros. Os comboios percorriam parte da Paraíba. Mas foram os investidores de Campina Grande, que souberam aproveitar a rota do produto e transformaram a cidade na maior praça algodoeira do país, e uma das maiores do mundo.
Os tropeiros, que inspiraram a música “Tropeiros da Borborema”, tiveram papel importante. Estes comerciantes ‘nômades’, transportavam suas cargas em lombos de jumento por todo o Nordeste e paravam obrigatoriamente na Rainha da Borborema, por ser um município estratégico. No estalo do relho, e graças a visão de povo, Campina Grande se desenvolveu como uma das principais cidades do interior do país.
Até 1940, Campina Grande era a segunda maior exportadora de algodão do mundo, atrás somente de Liverpool, na Inglaterra. De lá pra cá, a economia e as características do comércio de algodão mudaram, mas a cidade manteve-se na vanguarda ao desenvolver em parceria com a Embrapa um produto ecologicamente correto: o algodão colorido orgânico.
O historiador lembra ainda a luta de muitos campinenses para convencer o então presidente Juscelino Kubitschek a fazer a adutora do açude Epitácio Pessoa em Boqueirão, que garantiu o abastecimento da cidade; bem como, as frentes de luta para sensibilizar uos governos federal e estadual a investir na educação e tornar a Rainha da Borborema um polo educacional com pelo menos duas grandes universidades públicas.
Se Campina hoje tem um polo industrial forte, é graça a luta de muitos visionários. O historiador Vanderley Brito cita o movimento que surgiu para a implantação do polo industrial na cidade, uma luta que teve como principal desafio, convencer a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), a instalar um arrojado distrito industrial no município.
“Tudo isso foi conquistado com muita persistência e obstinação. E é por causa desse espírito de grandeza, que Campina Grande há muito tempo é esse fenômeno, se diferenciando de centenas de cidades do interior do norte e nordeste do País. Um povo obstinado, vanguardista “, enfatizou.
Ele realçou alguns dos nomes que encabeçaram grandes frentes de lutas e contribuíram para alavancar o desenvolvimento da cidade, como Paulo Araújo Soares, Elpídio de Almeida, Vergniaud Borborema Wanderley, Cristiano Lauritzen, Edvaldo do Ó, entre tantos.
Muitas dessas lutas são retratadas no hino de Campina. Com trechos que descrevem a beleza da Rainha da Borborema, como “o teu céu sempre azul cor de anil, tuas serras de verde vestidas”, a canção, que há 47 anos foi escolhida para representar a cidade, emociona os campinenses sempre que é cantada em solenidades oficiais.
Conhecida como “A Rainha da Borborema”, Campina, é considerada um dos principais polos industriais da Região Nordeste bem como um dos maiores polos tecnológicos da América Latina, além de “Berço do Saber” para vários paraibanos de outras cidades e também de pessoas de outros estados e até de outros países. Um polo de excelência na produção de softwares e que exporta tecnologia de ponta.
Sob o signo do desenvolvimento e do progresso, Campina Grande chega aos seus 159 anos como cidade de vanguarda, um comércio pujante, e um polo educacional e tecnológico consolidado. Entre a riqueza do passado, e a memória de seus desbravadores, ela fixa os olhares para o futuro, sempre reservado para o seu povo, as oportunidades para superar crises, vencer desafios e recomeçar na busca por novos sonhos.
Severino Lopes
PB Agora