A insegurança alimentar grave grave, que ocorre quando a fome passa a ser uma experiência vivida em um domicílio, abrangia cerca de 80 mil lares que, juntos, somavam 272 mil moradores e representavam 6,3% do total de domicílios do estado entre 2017 e 2018. Nesse grau de insegurança alimentar, há redução da quantidade de alimentos também entre as crianças, como resultado da falta de comida. Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgados nesta quinta-feira (17), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em mais da metade dos domicílios paraibanos, cerca de 676 mil, há algum tipo de insegurança alimentar. O percentual de famílias nessas condições no estado (53,5%) foi maior do que as médias do país (36,7%) e do Nordeste (50,3%). O módulo avaliou a situação das residências brasileiras em relação ao acesso, à quantidade e à qualidade dos alimentos, sem comprometimento de outras necessidades.

No total, 2,24 milhões de pessoas moravam em lares em que havia algum tipo de insegurança alimentar na Paraíba. Os números, porém, não apontam que todos esses moradores passavam por insegurança alimentar,indicando apenas que habitavam em domicílios em que essa situação acontecia.

Em 33,9% do total de domicílios paraibanos a situação era de insegurança alimentar leve, ou seja, havia preocupação ou incerteza quanto ao acesso à comida no futuro. Além disso, a qualidade dos alimentos era inadequada, em decorrência de estratégias voltadas para o não comprometimento da quantidade. A pesquisa mostra que 1,41 milhão de pessoas moravam nas 429 mil residências com essas condições.

Por sua vez, a insegurança moderada foi estimada em 13,2% das famílias paraibanas, o que indica que, nesses domicílios, havia redução da quantidade de alimentos entre os adultos ou ruptura nos padrões de alimentação, como resultado da falta de comida. Ao todo, 561 mil pessoas habitavam nas 167 mil residências paraibanas enquadradas nessa situação.

Por outro lado, conforme a POF, a Paraíba apresentou a 8ª menor proporção do país de domicílios com segurança alimentar, de 46,5% do total, o que equivale a 588 mil lares e 1,72 milhão de pessoas. Nessa situação, as famílias têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. O indicador também ficou abaixo das médias nacional (63,3%) e regional (49,7%).

Além disso, na comparação com os resultados de 2013, obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a POF 2017-2018 indica que, na Paraíba,nesse intervalo de tempo, houve queda no percentual de domicílios em situação de segurança alimentar, que passou de 63,5% para 46,5%.Nesse mesmo período, também foram registradas reduções no cenário nacional, de 77,4% para 63,3%, e no Nordeste, de 61,9% para 49,7%. Enquanto isso, houve aumento nas situações de insegurança.

Escala

De acordo com a Escala Brasileira de Medida Direta e Domiciliar da Insegurança Alimentar, a segurança alimentar está garantida quando a família tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.

Na insegurança alimentar leve, há preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro e qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam a não comprometer a quantidade de alimentos. Na moderada, há redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos.

Na insegurança alimentar grave, há redução quantitativa severa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.

Brasil

A insegurança alimentar grave atingiu 4,6% dos domicílios brasileiros, o equivalente a 3,1 milhões de lares, em 2017-2018. Esse percentual significa que 10,3 milhões de pessoas residem em domicílios nessa situação, sendo 7,7 milhões moradores na área urbana e 2,6 milhões na rural.

Em 2017-2018, dos 68,9 milhões de domicílios no Brasil, 36,7%, o equivalente a 25,3 milhões de lares, estavam com algum grau de insegurança alimentar: leve (24%, ou 16,4 milhões), moderada (8,1%, ou 5,6 milhões) ou grave (4,6%, ou 3,1 milhões).

Segundo o IBGE, na população de 207,1 milhões de habitantes em 2017-2018, 122,2 milhões eram moradores em domicílios com segurança alimentar, enquanto 84,9 milhões moravam aqueles com alguma insegurança alimentar, assim distribuídos: 56 milhões em domicílios com insegurança alimentar leve, 18,6 milhões em domicílios com insegurança alimentar moderada e 10,3 milhões de pessoas residentes em domicílios com insegurança alimentar grave.

Captada por três suplementos da antiga Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a prevalência nacional de segurança alimentar era de 65,1% dos domicílios do país em 2004, cresceu para 69,8% em 2009 e para 77,4%, em 2013.

Já a POF 2017-2018 mostra que essa prevalência caiu para 63,3%, ficando abaixo do patamar encontrado pela PNAD em 2004. A insegurança alimentar leve teve aumento de 33,3% frente a 2004 e 62,2% em relação a 2013. A insegurança alimentar moderada aumentou 76,1% em relação a 2013 e a insegurança alimentar grave, 43,7%.

Segundo o gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares, André Martins, o aumento da insegurança alimentar está relacionado, entre outros motivos, à desaceleração da atividade econômica nos anos de 2017 e 2018.

Menos da metade dos domicílios do Norte (43%) e Nordeste (49,7%) tinham segurança alimentar, isto é, acesso pleno e regular aos alimentos. Os percentuais eram melhores no Centro-Oeste (64,8%), Sudeste (68,8%) e Sul (79,3%). A prevalência de insegurança alimentar grave do Norte (10,2%) era cerca de cinco vezes maior que a do Sul (2,2%).

A rede geral de esgotos está presente em menos da metade dos domicílios em insegurança moderada (47,8%) e grave (43,4%). Em ambos os casos, a existência de fossa não ligada à rede é bastante relevante (43%).

O uso de lenha ou carvão na preparação dos alimentos foi mais frequente nos domicílios com insegurança alimentar moderada (30%) e grave (33,4%). Já o uso de energia elétrica foi mais frequente (60,9%) nos lares em segurança alimentar e menos (33,5%) nos lares com insegurança alimentar grave.

A POF pediu a avaliação subjetiva (bom, satisfatório ou ruim) dos moradores sobre seus padrões de alimentação, moradia, saúde e educação. Quase a metade (49,7%) das famílias com insegurança alimentar grave classificaram como ruim o seu padrão de saúde, enquanto quase dois quintos (33,9%) dessas famílias avaliaram como ruim o seu padrão de alimentação.

Fonte: Portal Correio

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