O setor da educação foi um dos que mais sentiram os impactos da pandemia do novo coronavírus, causador da Covid-19. O contato direto entre educadores e estudantes, as maneiras de transmitir os conteúdos e de avaliar o aprendizado tiveram que sofrer adaptações para o ensino remoto que nem todos (escolas, professores, alunos, familiares) estavam preparados para acompanhar.

Em certos casos, por dependerem de suportes tecnológicos compatíveis, as mudanças não foram bem assimiladas, pelo menos inicialmente, por quem não tem acesso em casa a recursos do mundo digital. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no dia 29 de abril de 2020, o percentual de domicílios paraibanos em que a internet é utilizada era de 72,2% em 2018. Ou seja, no período do levantamento, cujas informações são referentes ao 4º trimestre de 2018, 27,8% desse montante avaliado não dispunha desta tecnologia, representando 362 mil lares da Paraíba.

Diante do avanço e das incertezas da pandemia, o retorno às atividades presenciais dentro de novos protocolos de segurança sanitária segue indefinido, conforme indicou o Governo do Estado no mês de agosto. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia (SEECT), enquanto não houver um cenário que estabeleça o mínimo de segurança aos alunos e colaboradores, as aulas devem permanecer acontecendo através do regime especial de ensino.

Adequações

Com desfecho indeterminado da situação, todos os personagens e entidades envolvidos, seja na esfera pública ou privada, tiveram que se mobilizar em favor da continuidade do ano letivo. Por parte do Estado, por exemplo, a pasta da Educação vem implementando ferramentas para procurar manter a qualidade do ensino para os mais de 253 mil estudantes da rede estadual.

O principal instrumento tem sido a plataforma Paraíba Educa, que reúne todas as informações sobre regime especial de ensino, assim como os recursos educacionais, documentos legais e pedagógicos, além de promover o contato direto entre estudantes, professores, gestores e a SEECT.

Além da plataforma Paraíba Educa, também são utilizados os seguintes recursos:

  • Google Classroom – Plataforma virtual para aulas online que está sendo organizada pelas próprias escolas. Esta ferramenta é incorporada pelas turmas devidamente matriculadas na Plataforma SABER da SEECT, sistema de ensino remoto que tem por objetivo integrar escolas, alunos e professores. Através do sistema é possível que os professores enviem atividades para os alunos, bem como os estudantes tenham acesso a informações das disciplinas. O Sistema Saber foi desenvolvido antes da implementação do regime especial de ensino e acabou sendo adaptado junto à utilização do Google Classroom para atender a demanda de alunos e professores;
  • Aplicativo Paraíba Educa – Permite o acesso dos estudantes e professores ao Google Classroom e à Plataforma SABER. Os estudantes podem acessá-lo mesmo sem ter conexão com a internet;
  • Redes sociais – São ferramentas de interação entre equipes escolares, estudantes e famílias em grupos oficiais das turmas criados por cada escola. Também são utilizadas para o envio de roteiros de atividades estruturadas para as famílias e estudantes;
  • TV Paraíba Educa – A SEECT fechou parceria com a TV Assembleia e está produzindo conteúdo diário de videoaulas para os alunos através da rede aberta de televisão. O sinal alcança as principais regiões do Estado, do Litoral ao Sertão. A transmissão é feita através dos canais da Rede Legislativa 40.4, na Grande João Pessoa; 15.4, em Campina Grande e região; e 14.4, em Patos.

Esta alternativa pela TV aberta também foi adotada na rede municipal de ensino da Capital. A TV da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) exibe aulas direcionadas para os estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Com a transmissão de duas aulas por dia, de segunda a sexta-feira, a partir das 15h, os alunos podem assisti-las através do canal 39.2.

Ensino híbrido

A SEECT informa que as ferramentas citadas não serão deixadas de lado mesmo quando a normalidade sanitária for restabelecida. Em um primeiro momento, elas podem ser utilizadas para o desenvolvimento de um ensino híbrido, tanto presencial quanto remoto, em transição à normalidade.

Dentre as cidades paraibanas, a gestão municipal de Campina Grande já se pronunciou favorável a esta alternativa. O secretário de Educação do Município, Rodolfo Gaudêncio, apresentou no último dia 13 de agosto uma proposta de protocolo setorial para o início do ensino híbrido municipal, com retorno presencial gradual e progressivo nas unidades educacionais. O documento já foi encaminhado ao Ministério Público, Ministério Público do Trabalho e Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Campina Grande (Sinepec).

Na ocasião, Gaudêncio detalhou que a proposta apresentada está sendo discutida com todos os setores envolvidos na Educação. “Entendemos que há uma precaução para o retorno das aulas presenciais, mas a proposta está sendo discutida para que, no momento oportuno, tenhamos o retorno das aulas nas escolas com a validação da Secretaria de Saúde e observando os índices epidemiológicos da nossa cidade”, ressaltou.

O secretário disse ao Portal Correio que a gestão municipal estava em busca pelo fechamento de contratos com TV aberta, aplicativo e demais meios online. “O ensino híbrido contempla as possibilidades de ensino em paralelo, em todas as plataformas possíveis”, comentou Rodolfo Gaudêncio, que acrescentou que a prefeitura está disponibilizando material impresso para quem não tem acesso à internet.

No segmento das instituições privadas de educação, como aponta o presidente do Sindicato das Escolas Particulares da Paraíba (exceto Campina Grande), Odésio Medeiros, as unidades estão preparadas para a continuidade do ensino remoto e para a possibilidade do retorno às aulas presenciais.

“As escolas estão prontas. Se começar hoje não há problema. O problema da volta às aulas é uma questão de saúde e temos que acompanhar as determinações do Estado. Nossa responsabilidade é grande”, afirma.

Medeiros ressalta que o sindicato apoia a manutenção do ensino à distância enquanto forem necessárias as medidas de prevenção. “Os alunos não estão tendo prejuízo no aprendizado e não houve problemas quanto ao acesso às tecnologias necessárias”, garante.

Protocolo do ‘novo normal’

O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), divulgou no último dia 28 de agosto o protocolo do novo normal para o segmento de educação. O documento traz recomendações e orientações técnicas e legais referentes à prevenção e ao controle da Covid-19 nos estabelecimentos escolares. A existência deste protocolo sanitário dedicado ao setor não determina sua abertura.

O retorno das aulas referentes ao ano letivo de 2020 ainda é um tema de extrema preocupação para as instituições responsáveis pelo enfrentamento direto da Covid-19. De acordo com o secretário de Saúde, Geraldo Medeiros, o Estado está iniciando um processo de inquérito sorológico em dois mil lares paraibanos que têm crianças e jovens entre 3 e 17 anos convivendo com pessoas com risco. O intuito é estudar o cenário para desenhar de que forma começará esse retorno das atividades.

“Esse é um segmento o qual temos que ter prudência. Após o resultado desse inquérito sorológico, nós teremos uma definição da abertura das aulas presenciais. A Secretaria de Saúde acredita na ciência e acha que este não é o momento ideal para a abertura”, pontua.

Como forma de preparação para um eventual retorno no futuro, foi desenvolvido um protocolo sanitário com recomendações a serem seguidas por estudantes e funcionários dentro das instituições de ensino. As ações básicas do documento são: realizar capacitações com os docentes, técnico-administrativos, prestadores de serviços e colaboradores que estarão em atendimento aos alunos e ao público em geral; compartilhar informações claras, concisas e precisas sobre a Covid-19, normalizar a comunicação sobre medo e ansiedade e promover estratégias de autocuidado não apenas para os alunos e suas famílias, mas também para os professores e outros funcionários da escola; e estimular o método de ensino não presencial.

O protocolo do novo normal para o segmento de educação traz orientações de distanciamento social, higiene pessoal, limpeza e higienização de ambientes e o monitoramento das condições de saúde para os estudantes e funcionários. Também traz algumas ações específicas para os subsetores da educação infantil, do ensino fundamental, médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), e do ensino superior, profissional e complementar. Por exemplo, para a educação infantil, uma das recomendações é fazer intervalos intercalados entre as turmas para reduzir a quantidade de crianças em um mesmo espaço. De forma geral, o uso da máscara dentro das instituições de ensino é obrigatório, bem como a higienização das mãos ao entrar nos estabelecimentos.

Este protocolo sanitário foi elaborado por um grupo técnico formado por representantes da SES, SEECT, Ministério Público, Tribunal de Contas, escolas particulares, sindicatos e conselhos. O documento pode ser acessado na íntegra neste link.

Desafio para todos

Como já se falou, todos os envolvidos na implantação do ensino remoto tiveram que passar por adaptações rápidas em suas rotinas. Essas alterações quase repentinas atingiram em maior ou menor grau a educação particular e pública. Conversamos com pessoas que fazem parte desses dois universos para entender melhor os detalhes que os aproximam e os diferenciam diante das dificuldades em lidar com os efeitos da pandemia.

Ensino particular

A jornalista Kaliandra Moura é mãe da garota Lis Gomes de Moura, de 8 anos de idade, estudante do 3ª ano do ensino fundamental em uma escola particular de João Pessoa. Ela conta como a família está encarando os desafios das atividades virtuais.

“É uma rotina complicada porque precisa de acompanhamento de um adulto. Como eu e o meu esposo trabalhamos, conto com a ajuda de uma tia que está trabalhando home office e é quem dá esse suporte com ela. Outra dificuldade é em relação às tarefas. Como os assuntos não são bem absorvidos pelos alunos nas aulas remotas, os pais estão precisando não só acompanhar, mas estudar o conteúdo com as atividades que precisam ser postadas diariamente para a professora”, explica Kaliandra.

Ela também fala sobre a adaptação aos suportes tecnológicos: “No início eu confesso que Lis perdeu muita aula e deixou de fazer muitas atividades porque eu ainda não tinha encontrado a rotina de levar livros para casa da avó todos os dias, disponibilizar o computador, etc. Além disso, tive problema de falta de familiaridade com a plataforma, como postar as atividades, onde encontrar o vídeo postado, os anexos, muita informação junta. Os professores também sentiram a mudança e a escola precisou fazer alguns ajustes. Enfim, o primeiro semestre, principalmente, foi meio caótico”, admite a jornalista.

Detalhe importante para as escolas terem um feedback do aproveitamento dos estudantes, as formas de avaliações também tiveram que passar por ajustes. “A escola criou um grupo de WhatsApp para cada série e semanalmente disponibiliza o horário com as matérias e as atividades. As postagens das tarefas podem ser tanto pela plataforma ou pelo WhatsApp. As notas estão sendo dadas baseadas nas participações dos alunos nos meets (aulas ao vivo) e nas atividades postadas”, explica Kaliandra, que lamenta por perceber queda no rendimento dos estudos da filha: “Está longe de ser satisfatório porque em casa sempre existem as distrações e é mais difícil manter a concentração. Um dia a minha irmã disse que Lis adormeceu no meio da aula!”

Fonte: Portal Correio

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