Em Mossoró (RN), uma mulher que trabalhava há 32 anos como empregada doméstica foi resgatada da residência de um pastor da Assembleia de Deus. Os auditores fiscais do trabalho informaram que ela morava com o pastor Geraldo Braga da Cunha e a família dele desde os 16 anos, e que já sofreu abuso e assédio sexual do empregador. O religioso nega as acusações.

O Ministério do Trabalho e Previdência foi informado sobre o caso por meio de uma denúncia anônima através da conta @trabalhoescravo no Instagram, mantida pelo Instituto Trabalho Digno.

Uma equipe do grupo especial de fiscalização móvel foi até o local na última semana, coordenada pela Inspeção do Trabalho em conjunto com o Ministério Público do Trabalho, a Polícia Federal e a Defensoria Pública da União.

A vítima que trabalhava na casa do pastor, hoje com 48 anos, era responsável pelos serviços domésticos e ajudou a criar os quatro filhos dele. Em troca, ela tinha direito à moradia, alimentação, roupa e presentes, mas nunca recebeu salário nem tirou férias.

“Famílias ‘pegam meninas para criar’, gerando uma relação de exploração. É uma prática comum na região, infelizmente”, explica a auditora fiscal do trabalho Gislene Stacholski, que atuou a investigação da denúncia.

Somando os salários atrasados e verbas rescisórias, o valor devido pela família à vítima é de cerca de R$ 88 mil. Mas, parte desse montante já prescreveu. Mesmo assim, o Ministério Público do Trabalho pediu R$ 200 mil em danos morais à vítima.

Marina Sampaio, coordenadora da operação da SIT, disse em entrevista que as pessoas que moravam na casa do pastor sabiam dos abusos que a vítima sofria: “Sabia (dos abusos). A família toda sabia, mas nunca ninguém tomou iniciativa com relação a isso.”

Após ser resgatada, a vítima foi para casa de uma irmã, onde está recebendo três parcelas de seguro-desemprego, concedidas nesses casos de resgate de trabalhadores em situação análoga ao regime escravo desde 2003.

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