Filho de Lula que atua como cabo eleitoral do pai nas redes é exonerado na Assembleia de São Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — Luís Cláudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi exonerado nesta terça-feira (10) do cargo comissionado que ocupava desde 2019 na Assembleia Legislativa de São Paulo. Antes disso, ele vinha sendo notícia por causa de postagens em defesa do pai nas redes sociais.
O filho caçula do petista exercia a função de auxiliar parlamentar no gabinete do deputado estadual Emidio de Souza (PT), que é próximo do ex-mandatário. Segundo dados do portal da Assembleia, o servidor recebeu remuneração líquida de R$ 5.248,26 em junho deste ano.
A informação no gabinete é a de que Luís Cláudio recebeu uma proposta de trabalho para atuar na área em que é formado. Ele se graduou em educação física, fundou empresas de marketing esportivo e é investigado ao lado do pai sob suspeita de envolvimento em corrupção, o que sempre negou.
Luís Cláudio buscava ser discreto ao circular pela Assembleia para não chamar a atenção, mas relatos colhidos pela Folha de S.Paulo dão conta de que ele chegou a ser hostilizado por detratores de Lula que o reconheceram nos corredores. A reportagem já o avistou no gabinete de Emidio durante o expediente.
Para evitar abordagens que pudessem ser incômodas, o auxiliar às vezes preferia almoçar na sala ocupada pelo equipe do deputado, em vez de frequentar algum dos restaurantes da Casa ou deixar o prédio para comer fora em horários de grande movimentação.
Bolsonarista, o deputado estadual Gil Diniz (eleito pelo PSL e hoje sem partido) repercutiu a nomeação do filho de Lula em discurso na tribuna em 2019. Em tom de alerta, disse que “gostaria de informar o povo de São Paulo que rechaçou o PT nas urnas” sobre o fato de Luís Cláudio estar trabalhando na Casa.
Diniz, que é aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e dos filhos, afirmou ainda que faria marcação cerrada para conferir se o assessor iria mesmo exercer sua função. “Esse eu faço questão de fiscalizar se realmente vai trabalhar ou vai fazer como o pai dele”, provocou.
Insinuações de que se trataria de um funcionário fantasma voltaram a ser mencionadas em redes sociais nesta terça, mas as suspeitas são refutadas por assessores do gabinete e da bancada do PT.
A exoneração, assinada pela mesa diretora da Assembleia, deu-se a pedido do próprio Luís Cláudio, que já foi substituído. Quando fez a nomeação, Emidio disse que o funcionário seria responsável por planejar sua agenda e controlar a tramitação de documentos administrativos e legislativos.
O parlamentar, que saiu derrotado da tentativa de virar prefeito de Osasco em 2020, referiu-se ao filho de Lula na época da admissão como “uma pessoa qualificada” e com “todas as condições de contribuir” com o mandato. Também disse ser “descabida a tentativa de impedir Luís Cláudio de trabalhar”.
“Não bastasse a implacável perseguição ao presidente Lula, as forças do atraso querem estender a perseguição a que ele é submetido a toda a sua família, o que reforça a afronta ao Estado democrático de Direito”, afirmou o deputado por meio de nota. Procurado nesta terça, ele não se manifestou.
Outra função assumida pelo servidor, segundo Emidio, foi a de auxiliar o trabalho do mandato nas redes sociais. Em sua página pessoal no Twitter, criada em junho de 2009, Luís Cláudio tem dado mostras nos últimos tempos de familiaridade com o ambiente virtual.
No perfil, ele se apresenta como: “Apenas eu! Fã de esportes, games, animes, filmes e comida!”.
Com declarações de apoio à candidatura de Lula à Presidência em 2022 -intercaladas com postagens de tom pessoal, como uma homenagem no Dia dos Pais ao “melhor pai do mundo!!!”- e críticas a Bolsonaro e ao governo federal, o tuiteiro se exibe com frequência para seus 27 mil seguidores.
No domingo passado (8), quando atingiu a marca de quase 23 mil perfis o acompanhando, comemorou: “Nunca imaginei isso!!!”. Foram cerca de 4.000 novos seguidores em dois dias.
Em abril, a coluna Mônica Bergamo publicou que Luís Cláudio usou sua conta para responder com um palavrão ao apresentador Pedro Bial, da TV Globo, que afirmou que só entrevistaria o ex-presidente se pudesse contar com um detector de mentiras (polígrafo) durante a conversa.
“Enfia esse Polígrafo no teu CU”, escreveu o filho do petista.
O tom raivoso ainda é adotado por ele para atacar o bolsonarismo (em posts autorais ou replicados). Chama o presidente de “Bozo”, inominável, lazarento, abestado e genocida. Ironiza defensores do voto impresso e aderiu à hashtag #mariofriaséotário, contra o secretário especial da Cultura, Mario Frias.
Também replica mensagens de líderes do PT, como o pai e o ex-chefe Emidio.
Recentemente, brincou ao perguntar se, como filho, poderia se candidatar ao posto de vice na chapa petista para 2022. E revelou a esperança de que a vitória do ex-presidente “vai ser no primeiro turno”.
Foi ácido, dias atrás, ao confrontar as teorias de que filhos de Lula ficaram milionários ou são donos de empresas como a Friboi. Luís Cláudio compartilhou uma montagem com imagens luxuosas que ilustrariam a lancha, o jato, a empresa, a mansão, a Ferrari e a fazenda “do Lulinha”.
Por fim, sob uma foto de manifestantes vestindo verde e amarelo na avenida Paulista diante do célebre pato inflável da Fiesp, a legenda: “E os idiotas que acreditam nessas merdas”.
Fora do universo da política, Luís Cláudio foi um comentarista frenético da Olimpíada, opinando no Twitter sobre várias modalidades. No passado, ele chegou a trabalhar como auxiliar técnico em clubes como São Paulo, Palmeiras, Santos e Corinthians, o time do coração de seu pai.
A atuação no meio esportivo está na raiz das apurações de que o caçula de Lula se tornou alvo nos últimos anos.
Parte das investigações foi arquivada, mas ele ainda responde a uma ação no Distrito Federal, na qual o ex-presidente também é réu, sobre a compra de caças pelo governo federal e a edição de uma medida provisória que prorrogou incentivos a montadoras.
O caso é um dos restantes em que o petista continua implicado, mesmo após a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de março que anulou as condenações dele na Operação Lava Jato.
Na segunda-feira (9), o TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) mandou trancar a única ação penal contra o ex-presidente que corria em São Paulo. Ele era acusado de lavagem de dinheiro por meio de doações ao Instituto Lula feitas por uma empresa com negócios em Guiné Equatorial, na África.
No caso que está em aberto, filho e o pai são acusados de lavagem e de organização criminosa –o ex-presidente também responde por tráfico de influência. Uma empresa de Luís Cláudio, a LFT Marketing Esportivo, recebeu R$ 2,55 milhões de um escritório apontado como sendo de lobistas, de 2014 a 2015.
Segundo o que o Ministério Público Federal disse na denúncia, houve uma simulação de prestação de serviços pela firma de Luís Cláudio, e o dinheiro foi pago para influenciar decisões do governo federal, que à época era comandado por Dilma Rousseff (PT).
A Procuradoria também afirma que o filho do ex-presidente plagiou textos na internet ao elaborar relatórios que justificariam a suposta consultoria que disse ter prestado ao escritório dos lobistas.
Lula sempre negou que os pagamentos recebidos pela empresa de Luís Cláudio tivessem origem ilícita. A defesa já afirmou que o plágio apontado pela PF corresponde a uma pequena parcela das informações dos documentos relativa a dados públicos incluídos na consultoria.
Em outra ação, que foi arquivada em dezembro de 2020, Lula e o filho foram ligados à suspeita dos crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de influência por pagamentos para a empresa de marketing esportivo Touchdown.
A companhia, da qual Luís Cláudio é diretor-geral, teria recebido mais de R$ 10 milhões de patrocinadores, mas tinha capital social de R$ 1.000. As suspeitas se basearam em afirmações de delatores da Odebrecht. O pedido de arquivamento partiu do Ministério Público Federal.
O filho do petista sempre afirmou que as acusações dos delatores eram mentirosas. Os advogados de Lula sustentaram que ele jamais solicitou ou recebeu, para si ou para terceiros, qualquer valor de empresa a pretexto de influir em ato de qualquer agente público.
No período em que o ex-presidente ficou preso na Polícia Federal em Curitiba, entre 2018 e 2019, Luís Cláudio era um dos familiares que faziam visitas regulares ao pai. Os parentes costumavam ir de São Paulo à capital paranaense de carro, em um trajeto que dura cerca de cinco horas.
Lula disse em vários momentos que a perseguição judicial e política da qual se tornou vítima foi estendida a seus filhos, que ficaram com dificuldade para conseguir emprego, tiveram que mudar de endereço e passaram a sofrer retaliações em locais públicos, além de terem a vida revirada por investigações.