Estudante caririzeiro conclui mestrado em jornalismo e faz ensaio fotográfico com os pais para celebrar a conquista
O jovem natural da cidade de Boa Vista, no Cariri paraibano, Mateus Araújo, 26 anos, formado na Universidade Estadual da Paraíba, no curso de jornalismo, e está prestes a concluir o mestrado em jornalismo profissional na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Diante disso, o estudante decidiu fazer um ensaio fotográfico diferente para celebrar a conclusão desta importante fase da sua vida.
“Sou do sítio, cresci e vivi boa parte da minha vida na Zona Rural do município de Boa Vista, no Cariri paraibano, e escolhi o sítio que meus pais vivem para fazer esses registros fotográficos. Quando me formei em jornalismo não tive ensaio fotográfico e nem festa de formatura e, dessa vez, concluindo o mestrado, quis fazer essas fotos para eternizar esse momento, mas eu não queria fotos em estúdio, procurei fazer algo que parecesse mais comigo, foi aí que tive a ideia de fazer o ensaio no sítio ao lado dos meus pais com o intuito de proporcionar a eles a sensação de estarem se formando comigo,” relatou.
Ao falar sobre o ensaio com os pais, o estudante relatou que eles não chegaram a concluir o ensino fundamental, mas sempre fizeram questão de incentivar o filho a seguir o caminho da educação.
“Meus pais não chegaram a concluir o ensino fundamental, mas sempre fizeram questão de me incentivar a seguir o caminho da educação. O meu caminho até aqui não foi nada fácil, confesso. Da alfabetização até a conclusão do ensino médio sempre tive que ir e voltar caminhando pra escola por não ter transporte. E durante todo esse tempo foram inúmeras as situações que precisei enfrentar, seja na chuva ou no sol. Mas, isso nunca foi visto por mim como um obstáculo, ou como vitimismo… vitimismo não é uma palavra que consta no meu vocabulário,” falou.
Em contato com a reportagem, o estudante falou que durante o período que passou na graduação, teve que enfrentar vários obstáculos, mas superou com determinação e comprometimento.
“Já na graduação, quando precisei mudar de cidade, também tive que enfrentar outros obstáculos. Lembro que eu tinha um caderninho que fazia as contas de quantos dias daria pra ir pra universidade de ônibus, e quantos dias eu teria que ir a pé pra não faltar dinheiro. Também me recordo que só consegui ter um computador na reta final da graduação, antes eu fazia meus trabalhos manuscritos, tirava fotos do trabalho pelo celular e pedia pra um amigo digitar para que eu pudesse imprimir na universidade e entregar a atividade,” revelou emocionado.
O jornalista, ainda, afirmou que durante toda a sua trajetória, apesar de não terem uma formação acadêmica, seus pais sempre foram os seus maiores mestres, e os seus maiores incentivadores.
“Durante toda essa trajetória, meus pais, apesar de não terem uma formação acadêmica, sempre foram os meus maiores mestres, os meus maiores incentivadores, meus fãs incondicionais, sempre choraram comigo, de tristeza e de alegria, sempre vibraram em cada uma das minhas pequenas grandes vitórias. Eu estou aqui também por eles. Estou aqui por reconhecer a luta dos meus pais de vencer na vida. Estou aqui para alegrá-los com mais essa vitória. Lembro de todas as vezes que compartilhei algumas das minhas conquistas acadêmicas e/ou profissionais e eles vibraram comigo sem nem saber direito do que se tratava. Por mais que eu saiba que eles não possuem domínio da escrita e da leitura, fiz esse ensaio com eles para que eles fiquem cientes que são os maiores mestres que eu poderia ter nessa vida, é uma forma de dizer que eles venceram. Foi, sem dúvidas, um dos momentos mais bonitos e mais especiais da minha vida. Quis “me formar” junto deles. Fiz questão de proporcionar a eles essa sensação de conquista. Confeccionei até certificados para os meus pais, de forma simbólica, atestando o êxito em sempre me incentivarem a seguir o caminho dos estudos,” falou.
Sobre o ensaio fotográfica, o estudante afirmou que a mensagem que quis passar é que o caminho da educação, para quem vem de baixo, é uma das únicas alternativas. Mateus, disse que atualmente escreve crônicas, tendo mais de 100 escritas, e futuramente lançará um livro com seus relatos.
“Escrevo crônicas sobre o dia a dia do povo nordestino. Com os meus escritos eu mostro o cotidiano simples desse povo, suas alegrias, suas dores. Tenho mais de 100 crônicas escritas com essa temática e tenho o objetivo de futuramente lançar um livro com esses relatos. E, também por isso, meu ensaio fotográfico de conclusão de mestrado não poderia ser diferente, tinha que ser no sítio, no meio do Cariri paraibano, junto com meus pais, os personagens principais da minha vida e das minhas crônicas”.
“A mensagem que quis passar é que o caminho da educação, para quem vem de baixo como eu, é uma das únicas alternativas. A minha história é semelhante a de tantas outras pessoas. Quero incentivar outras pessoas de origem humilde, mostrar que é possível alcançar os seus objetivos, apesar de não ser fácil, confesso, não quero romantizar as dificuldades, mas não é impossível,” disse.
Ao final da entrevista, o caririzeiro se definiu como um realista esperançoso, parafraseando o escritor e conterrâneo, Ariano Suassuna.
“Ver os meus pais vestindo beca e capelo me proporcionou uma felicidade imensa, sei que se não fosse por isso eles jamais iriam poder vivenciar isso. Gosto de parafrasear Ariano Suassuna que diz que o otimista é um tolo, o pessimista um chato e que o bom mesmo é ser um realista esperançoso, e é assim que me defino: um realista esperançoso,” finalizou.
Paraíba Mix