No Limite: primeira campeã recorda polêmica com cinegrafista da Globo
A vida da cabeleireira Elaine Melo nunca mais foi a mesma após participar da primeira edição de “No Limite”, exibida em 2000, pela TV Globo. Descoberta por uma olheira do programa enquanto trabalhava, ela viveu uma das maiores aventuras que poderia imaginar: a fama, subidas difíceis nas dunas, amizades e até uma briga com o cinegrafista do programa.
Apesar de todos os perrengues, Elaine se tornou a primeira ganhadora de realities no Brasil. Em entrevista exclusiva ao IG Gente, ela recordou o mês de gravações na praia de Beberibe, no Ceará. Um dos momentos que mais marcaram a passagem de Elaine no programa foi a invasão de privacidade que a deixou muito nervosa. O banheiro improvisado era o único momento de individualidade que os participantes tinham. Equivocado, um cinegrafista tentou filmar a campeã.
“O nosso banheiro era um buraco no chão. Em volta, tinha uma mata, então cercamos com folhas e bambus, para ninguém ver quando estivéssemos usando. Foi quando um cinegrafista entrou na mata, bem na hora que eu estava usando. Eu pedi licença várias vezes e ele não respeitou. Ele me ignorou, e continuou filmando. Tinha um cupinzeiro bem no meu pé, aí chutei e arranquei um pedaço e joguei em direção a ele. O pedaço bateu no tripé e quase derrubou a câmera”, conta.
A equipe de jornalistas responsáveis pelo conteúdo do reality foi acionada por Elaine, que chegou a cogitar desistir do programa. A gravação de cenas em momentos íntimos não era autorizada pela direção do programa.
“Depois dessa situação, segui a trilha até onde ficavam os repórteres, avisei sobre a invasão de privacidade, e foi quando eu disse desistiria do programa. Eu já estava tão exposta, não queria que ninguém me filmando em um momento íntimo. Eu não gostaria que minhas filhas fossem afetadas por isso. O nome do programa é ‘No Limite’, e eu já estava no meu”, relembra.
Porém, Elaine garante que procurou sempre algum motivo para estar no programa. A resistência vinha de lugares muitas vezes inusitados, como, por exemplo, um homem curioso que assistia à gravação da última prova que conquistou.
“Para mim, a pior prova foi a última, onde eu estava com a Pipa [participante], e tinha um homem sentado em cima de uma duna dando muita risada porque eu não conseguia soltar o cinto que fechava a caixa, e eu fui arrastando a caixa, e ele só ficava rindo. Eu já estava pensando em desistir, mas quando eu ouvi a risada, foi tão motivacional, me desafiou e eu consegui soltar o cinto.” entrega.
A coragem de encarar o programa surpreende. Elaine conta que não teve preparação física e psicológica, nem mesmo nervosismo nas vésperas do confinamento. Para ela, a força veio da certeza dos valores e forma de lidar com as dificuldades da vida, só que sendo filmada para o primeiro reality do Brasil. Ela ainda se compara ao seu participante favorito do “BBB 22”, Pedro Scooby.
“A minha preparação veio da vida. Eu não tinha noção do que ia ser, então eu fui eu mesma. Igual ao Scooby no ‘BBB’. De boa, curtindo o momento (risos), minha terapia foi conversar com os companheiros do programa, falar da saudade que eu tinha do meu pai, das minhas filhas, da minha família. Penso que ser autêntica é importante nesses programas, quando a gente transpassa isso, o público sente. Até hoje me parabenizam, mesmo 22 anos depois”, disse.
Em 2000, a TV Globo não abriu inscrições para que o grande público se candidatasse ao “No Limite”. A seleção era feita por produtores que buscavam bons personagens pelo Brasil. Uma produtora da Globo foi fazer as unhas no salão que Elaine trabalhava e sondar possíveis participantes para o programa. Mas não foi por ela que a funcionária da emissora se interessou de primeira.
“Na verdade, a produtora se interessou primeiro pela minha mãe, mas ela não quis. Então ela me perguntou se eu me interessaria de participar de um programa na Globo, mas eu teria que ficar um mês fora. Ela questionou se eu poderia mesmo ficar longe do meu marido e das minhas filhas de 8 e 9 anos na época. Eu respondi que topava. Eu precisava mesmo de férias da família, marido, cachorro, papagaio e periquito”, conta.
Elaine lembra com muito orgulho da época do programa. Ela considera que a autenticidade e o entrosamento do grupo de participantes foram o segredo para o sucesso da temporada. Para ela, mesmo 22 anos depois da exibição, ainda é lembrada e recebida com muita admiração. “O carinho existe até hoje, e o motivo não é só por ser a primeira edição. Acredito que foi a qualidade de pessoas que selecionaram para o programa, pela empatia que todos os participantes tinham. Tinha jogo sim, mas não era só jogo. Havia preocupação de uns com os outros. E isso passou para o público”, explica.
Na era pré-internet, era muito difícil que um anônimo ficasse famoso. Apenas quando apareciam em algum programa de TV, como foi o caso de Elaine. Mas mesmo com o impacto da exposição, ela nunca se impressionou tanto. “A fama nunca me assustou. Sempre trabalhei em salões de beleza grandes, já atendi o Jair Rodrigues, a Rose ex-mulher do Roberto Carlos, até o Ayrton Senna eu já atendi. Mas acho uma coisa bem louca, que um dia você é fã, no outro você é ídolo de alguém.” pontuou.
Sobre as amizades que criou no programa, ela conta que alguns ficaram muito próximos e ainda se falam e se encontram até hoje. Um grupo criado no WhatsApp é um ponto de encontro constante: “Nós temos um grupo, somos eu, Pipa, Vanderson, Thiago, Hilca, Andrea e Juliana. Esses foram o que ficaram, é uma amizade muita gostosa”, conta.
O prêmio para o grande vencedor, na época R$ 300 mil, possibilitou a compra de dois apartamentos, mas não mudou muito a vida de Elaine. Segundo ela, os impostos cobrados para o recebimento tiraram quase metade da quantia. “Na verdade, dos R$300 mil, eu ganhei só R$190 mil por conta dos impostos. Mas consegui comprar dois apartamentos. Não acho que foi muito dinheiro. A Luciana Gimenez ganhava mais que isso de pensão do Mick Jagger”, se divertiu.
Elaine está assistindo aos episódios do “No Limite 2022” e, por experiência, garante que as máscaras ainda vão cair nas próximas semanas. “Nesse começo, todos estão naquela guerra de egos, ainda não consigo torcer para ninguém. A partir da terceira semana, quando os participantes de conflito são eliminados, é que as pessoas aparecem de verdade. Eu gostei muito do Janaron, mas ainda estou definindo as posições das pessoas no jogo. Mas estou adorando, esse ‘No Limite’ é raiz e não Nutella”, concluiu.
Fonte: ig.com