Vacina da Pfizer reduziu em 75% as infecções pelo coronavírus menos de 1 mês após primeira dose, aponta estudo preliminar
A vacina da Pfizer/BioNTech contra a Covid-19 reduziu em 75% a transmissão do coronavírus Sars-CoV-2 menos de um mês após a aplicação da primeira dose, segundo um estudo preliminar publicado na quinta-feira (18) na revista científica “The Lancet”. A pesquisa foi feita com 9.109 profissionais de saúde no maior hospital de Israel.
O dado é importante porque, até agora, poucos estudos foram feitos sobre a capacidade das vacinas de reduzir a transmissão do vírus – e não só os casos sintomáticos de Covid-19. Na pesquisa, além de diminuir a transmissão do vírus, a vacina também reduziu em 85% os casos sintomáticos da Covid.
“É grande coisa porque, até agora, a gente não sabia disso – se [a vacina] tinha capacidade de reduzir a transmissão. É uma coisa maravilhosa”, avalia a epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Os cientistas israelenses pontuam, entretanto, que os resultados “precisam de validação adicional por meio de vigilância ativa”, comparando pessoas vacinadas e não vacinadas. Eles apontam que as reduções vistas nos profissionais de saúde podem ser diferentes das vistas na população em geral, por causa da maior exposição desses profissionais ao vírus ou a cepas mais virulentas e infecciosas.
A vacina da Pfizer, apesar de ter sido testada no Brasil, não está disponível no país. No início do ano, a farmacêutica disse ter oferecido 70 milhões de doses da vacina ao governo brasileiro para entrega ainda em dezembro, mas a oferta foi recusada. O Ministério da Saúde disse que as doses propostas pela Pfizer causariam “frustração” aos brasileiros.
Adiamento da segunda dose
Os pesquisadores destacam que os resultados dão suporte à possibilidade de adiar a segunda dose, em cenário de escassez de vacinas, já que a primeira dose apontou a redução na transmissão do vírus e nos casos de Covid sintomática.
“As reduções precoces das taxas de Covid-19 fornecem suporte para o adiamento da segunda dose em países que enfrentam escassez de vacinas e recursos escassos, de modo a permitir maior cobertura da população com uma única dose”, avaliam os cientistas.
Os pesquisadores acrescentam que é necessário um acompanhamento a longo prazo para avaliar a efetividade de uma única dose da vacina e informar políticas públicas de adiamento da segunda dose.
“Acho que essa é a grande mensagem, principalmente num cenário em que a gente não tem estoque das vacinas. Já saber que a primeira dose tem efeito e poder postergar a segunda dose é algo muito importante”, diz Ethel Maciel, da Ufes.
Israel lidera o ranking mundial de vacinas aplicadas em relação ao número de habitantes e já garantiu doses suficientes para imunizar a população inteira, mas esse cenário é raro no resto do mundo. No Brasil, por exemplo, a vacinação foi suspensa em várias cidades por falta de doses.
O estudo
Os pesquisadores avaliaram 9.109 profissionais de saúde do maior hospital de Israel. Desses, 7.214 já haviam recebido a primeira dose até o dia 24 de janeiro, e 6.037, a segunda dose.
No período entre 15 e 28 dias depois da aplicação da primeira dose, houve 26 infecções pelo coronavírus entre os vacinados. Entre os não vacinados, foram 89 – uma redução, depois de ajustes, de 75%. Considerados apenas os casos sintomáticos, houve 11 casos entre os vacinados e 60 entre os não vacinados no mesmo período. A redução ajustada foi de 85%.
A maior parte das pessoas recebeu a segunda dose entre 21 e 22 dias depois da primeira. Por isso, quando os resultados da primeira dose foram medidos, algumas pessoas já haviam tomado a segunda dose; outras, não. Os pesquisadores não mediram o efeito das duas doses da vacina; depois que a dose é aplicada, leva algum tempo para fazer efeito. Esse tempo varia de vacina para vacina e de pessoa para pessoa.
“Quando você dá a dose, demora uns 15, 20 dias para fazer efeito, para aquele treinamento do sistema imunológico. Demora um tempinho. Por isso é que é a resposta da primeira dose”, explica Ethel Maciel.
“Os estudos da Pfizer demonstram que a produção de anticorpos começa logo, mais ou menos uma semana após a vacinação. Na primeira semana, você faz IgM, que são a primeira resposta a uma infecção. Depois, lá pelo 21º dia, o IgM começa a cair, e aumenta o IgG, que são os anticorpos que a gente espera que fiquem por um longo prazo. No caso da Pfizer, você tem um aumento grande de anticorpos, porque toma a segunda vacina com 21 dias”, completa.
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