Nova espécie de cupim é descoberta no Cariri paraibano por pesquisador da UFPB
Uma nova espécie de cupim foi descoberta na região do Cariri paraibano pelo professor Alexandre Vasconcellos, do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em parceria com o pesquisador Rudolf H. Scheffrahn, da University of Florida.
De acordo com a UFPB, a nova espécie é a Tauritermes bandeirai, identificada nas cidades de São João do Cariri e São José dos Cordeiros e no distrito de São José da Mata, em Campina Grande. Eles levaram cerca de cinco anos para realizar a coleta e descrição do novo cupim.
Segundo Alexandre Vasconcellos, a espécie já havia sido coletada na década de 70, na Bahia, mas não chegou a ser estudada. Porém, só depois das coletas em solo paraibano que foi possível estabelecer o status de “espécie nova”.
“Foi a partir do acúmulo de coletas em áreas de Caatinga na Paraíba que foi viável determinar que a espécie era nova para a ciência. Antes só havia uma coleta na Bahia, mas ninguém conseguiu determinar o status de espécie nova”, explicou Alexandre.
Conforme o estudo, no estado da Paraíba, existem cerca de 60 espécies de cupins, a maioria está na Mata Atlântica, no litoral, ou em áreas de Brejo, como no município de Areia. “Há uma área no município de São José da Lagoa Tapada, conhecida como Serra de Santa Catarina, que possui a maior biodiversidade de cupins já registrada na Caatinga, até o presente momento”.
Para o pesquisador, o novo cupim vai ajudar a descrever não só a biodiversidade do Nordeste, mas do Brasil. “A descoberta nos mostra que ainda sabemos muito pouco sobre a biodiversidade dos ecossistemas. Ainda há muitas outras espécies desconhecidas e talvez algumas com grande potencial farmacológico”.
A espécie descoberta é similar a cupins de madeira seca, que vivem nos móveis de residências e que, de tempos em tempos, libera grânulos no chão, parecidos com areia. Mesmo sendo desse grupo de cupins, a nova espécie não é considerada praga, pelo contrário, vive no interior de madeiras mortas, na Caatinga e Mata Atlântica, e é muito importante para a ciclagem dos seus nutrientes.
O professor da UFPB também informou que todos os seres vivos, não importando o tamanho ou a beleza, quando em seus ecossistemas naturais, possuem um valor intrínseco e um direito à vida, igualmente ao dos humanos. Esse valor só passa realmente a existir quando uma espécie nova é descrita para a sociedade, deixando de ser “anônima”. Nesse momento, caso a espécie esteja em risco de extinção, medidas de proteção podem ser legalmente tomadas para evitar o seu desaparecimento do planeta.
“Uma espécie descrita traz consigo uma grande quantidade de compostos químicos que podem ser exclusivos e com potencial para a farmacologia e biotecnologia. Por isso, as queimadas e os desmatamentos desenfreados de ecossistemas, como no Pantanal e na Floresta Amazônica, podem levar à extinção de espécies que ainda nem conhecemos e, com isso, podemos também perder substâncias que poderiam ser muito úteis para a humanidade”.
Alexandre ressalta que nos estudos de novas descobertas, as espécies são coletadas nos seus ambientes naturais e depois cuidadosamente analisadas em laboratório, sob microscópio. Após esse período, as características anatômicas dos indivíduos são comparadas com as das espécies conhecidas pela ciência, o que pode demorar anos.
Em seguida, os pesquisadores podem chegar à conclusão de que se trata de uma espécie conhecida ou de uma nova, tendo em vista a quantidade de diferenças encontradas em relação às espécies conhecidas. Se realmente for uma espécie nova, um artigo científico deve ser redigido e posteriormente publicado em revista científica.
A nova espécie foi descrita em homenagem a Adelmar Gomes Bandeira (in memoriam), ex-docente da UFPB e principal responsável pela criação do doutorado em Ciências Biológicas-Zoologia da federal paraibana. Em sua carreira, se tornou o primeiro pesquisador a estudar sobre a ecologia desses insetos nas Américas.
“Além da Tauritermes bandeirai, mais duas espécies foram descritas em sua homenagem: a Ruptitermes bandeirai e a Amitermes bandeirai. Isso demonstra o quanto ele era respeitado pelos pesquisadores da sua área de atuação. Sem contar que fui seu ex-aluno”, lembrou o professor.
Fonte: Vitrine do Cariri